
Um grave incidente de deriva de herbicida hormonal atingiu um parreiral na comunidade de Rio Ouro, no interior de Cacique Doble, na última semana, resultando na perda total da produção devido à intoxicação. O caso reacende o debate sobre a eficácia das regulamentações e os desafios enfrentados pela agricultura gaúcha diante do uso desses produtos.
O produtor Ataíde Sperondi, que há décadas cultiva uvas na região, confirmou que seu parreiral foi inteiramente comprometido pela deriva do herbicida, um problema recorrente que tem gerado sérios prejuízos a produtores rurais no estado. A deriva ocorre quando o produto químico, aplicado em uma lavoura, é transportado pelo vento para áreas vizinhas, atingindo culturas sensíveis e causando danos irreversíveis. Suspeita-se que a má aplicação, possivelmente com pontas incorretas e em horário inadequado, tenha contribuído para o incidente. Além disso, no município de Cacique Doble, a aplicação de herbicidas hormonais é limitada até o dia 15 de agosto, indicando que a aplicação ocorreu fora do período permitido.
O Cenário dos Herbicidas Hormonais no RS
O Rio Grande do Sul possui instruções normativas específicas para regulamentar a utilização de herbicidas hormonais, como as emitidas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPDR). Essas regulamentações visam controlar a venda, prescrição e aplicação desses produtos, exigindo, por exemplo, o cadastro de aplicadores e a declaração de uso por parte dos produtores rurais.
No entanto, apesar dos esforços regulatórios, os herbicidas hormonais continuam a ser uma fonte de preocupação. Um relatório da SEAPDR sobre ocorrências de derivas de herbicidas hormonais no período de 2018 a 2021 revelou que, embora tenha havido uma redução de 32% no número de denúncias em 2021 em comparação com 2020, o problema persiste. O 2,4-D é o principal princípio ativo envolvido, sendo confirmado em 77,41% das amostras analisadas em 2021.
Impacto nas Culturas e Fiscalização
A cultura da uva, como no caso de Rio Ouro, é uma das mais vulneráveis, representando 59,3% das amostras com deriva positiva para herbicidas hormonais. Outras culturas sensíveis também são afetadas, e o relatório aponta que o problema reside, em grande parte, na tecnologia de aplicação, com falhas no cumprimento das técnicas adequadas por parte dos aplicadores.
Municípios como Jaguari, Dom Pedrito e Santana do Livramento são considerados críticos, concentrando 54% das ocorrências de deriva de 2,4-D no estado. A SEAPDR realiza fiscalizações constantes, tendo efetuado 1004 ações fiscais e lavrado 347 autos de infração nos 24 municípios prioritários entre julho de 2019 e dezembro de 2021 [1].
O incidente em Rio Ouro, Cacique Doble, serve como um lembrete da necessidade contínua de conscientização, fiscalização rigorosa e aprimoramento das práticas de aplicação para proteger a diversidade agrícola e a subsistência dos produtores rurais gaúchos.
Fiscais estaduais da Secretaria Estadual de Agricultura realizaram vistoria no local e emitiram um laudo técnico que constatou o efeito da aplicação de herbicidas hormonais no parreiral do Sr. Ataíde Sperondi. Este evento pode acarretar em auto de infração, processo legal e até mesmo processo criminal para o responsável pela má aplicação, dada a gravidade dos danos e a violação das normas de uso de agrotóxicos. Além disso, o aplicador poderá ser responsabilizado pela indenização da produção atual e futura do parreiral, até que a plantação se restabeleça.
Fonte: FA/REGIONAL com informações da Emater
Foto: Divulgação