A pequena cidade de São Jorge, com 2.912 habitantes, ainda não consegue acreditar no desfecho brutal da história de uma família que vive no interior do município, ocorrido na madrugada desta sexta-feira (22). Uma mulher de 36 anos foi morta pela ex-marido, de 38. Ele também matou os pais dela, de 73 e 74 anos, e cometeu suicídio em seguida.
Pela manhã, uma tia da mulher, de 69 anos, aguardava a chegada da polícia em frente à casa onde o crime aconteceu.
— Estamos sem chão. É inacreditável. Eram pessoas incríveis. Todo mundo gostava deles. Meu irmão e minha cunhada eram o casal perfeito. Minha sobrinha era incrível — emociona-se.
Ela conta que, no começo, o ex-marido da sobrinha e autor do crime era diferente. Mas, com o tempo, o relacionamento ficou conturbado:
Eles estavam separados há um ano. Ele já tinha batido nela, no meu irmão e na minha cunhada, mas nunca imaginamos que pudesse acontecer isso. Eles tinham medo, mas a gente não acreditava que fosse possível. Dói muito — conta.
A familiar foi avisada do crime por volta das 2h20min por outro irmão.
— Viemos para cá assim que soubemos. Estamos muito chocados ainda. A ficha não caiu.
Homem que matou a família mandou cunhado buscar a filha
A filha do casal também estava na casa onde o pai cometeu o crime, na madrugada desta sexta-feira (22). O autor ligou para a irmã dele pedindo que ela e o marido fossem até a casa dos ex-sogros buscar a menina, que tem quatro anos. Quem faz o relato é o cunhado do homem, que tem 43 anos e também é padrinho da menina.
– Quando ele (o autor) ligou, por volta das 2h20min, eu já imaginei que tinha acontecido algo. Ele disse: “vem buscar a bebê que o serviço já está feito. O que eu tinha que fazer aqui já está feito” – conta.
Ele mora em Guabiju, cidade vizinha a São Jorge, e avisou a Brigada Militar (BM) sobre a ligação antes de ir buscar a afilhada.
– Eu cheguei e ele falou comigo pela janela do porão. Depois, abriu a porta da garagem, a bebê veio caminhando até mim e ele fechou a porta. Eu imaginei que ele tivesse batido nela, machucado, mas nunca isso – descreve o padrinho.
Segundo o padrinho, no caminho para casa, a menina demonstrava estar tranquila.
– Eu perguntei se estava tudo bem e ela disse: “O papai disse que o vô e a vó estão morando no céu e a mamãe está chorando”. Fiquei em choque.
O casal de padrinhos deve receber um termo da Polícia Civil para poder ficar com a criança.
– Nós temos um menino e a ligação dela conosco é grande. Ainda não contamos, só queremos o melhor para ela agora. Já estamos em contato com um psicólogo – conta, entre lágrimas.
As vítimas foram encontradas mortas no andar superior da casa, no quarto dos pais da ex-mulher do autor. O corpo dele estava no porão e ao lado dele havia uma espingarda calibre 12. A moradia fica no município. Os nomes das vítimas e do autor não são divulgados para não expor a filha do casal, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Prevenção ao feminicídio
Fonte: Polícia Civil e Poder Judiciário do RS
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.
Fonte: Aline Ecker – Pioneiro – GZH