Voluntários de Sananduva recuperam escola de Roca Sales destruída pela enchente
27/09/2023 - 11:30

Com a força da solidariedade, voluntários de Sananduva, ajudaram a reconstruir a Escola Comunitária de Educação Infantil Primeiros Passos, de Roca Sales, um dos municípios mais prejudicados pelo ciclone extratropical no Vale do Taquari.

No sábado (23), a escola recebeu móveis, materiais escolares e eletrodomésticos doados após o grupo voluntário ter realizado toda limpeza e a pintura do espaço que recebe 60 crianças por dia. Segundo a direção, a previsão é que a escola possa voltar às atividades na próxima semana, até 5 de outubro.

A escola perdeu tudo com a enchente e contou com a ajuda de um grupo de voluntários que reergueu a estrutura em cerca de 15 dias. O local foi atingido pela força da água e consumido pela lama na primeira semana de setembro.

— A gente chegou pela manhã para abrir a escola. Quando vimos, desde fora, estava tudo cheio de lama, com a água na altura das paredes. Nós só pedimos para Deus dar uma luz para a gente — disse a diretora da escola, Rosemari Facini Barzotto.

O pedido foi atendido. De Sananduva, a 220 quilômetros de Roca Sales, um grupo de 31 voluntários se organizou para ajudar com trabalho braçal no município, no feriado de Sete de Setembro. Por ordem de prioridade, elencada pela Defesa Civil, a escola foi a selecionada para receber a ajuda do grupo.

Professores, bombeiros voluntários, pintores, eletricistas, montadores de móveis e outros voluntários de diversas áreas auxiliaram na limpeza da escola e retirada de colchões, berços e materiais escolares que foram perdidos. Eles levavam os materiais para a beira da calçada, à espera do recolhimento. O grupo, no entanto, se comoveu com a situação e se comprometeu em ajudar ainda mais.

— Aquele cenário nos destruiu, foi muito triste. Tiramos tudo para fora, não se aproveitou nada. Para não dizer que foi tudo perdido, só sobraram dois botijões de gás. Limpamos tudo naquele dia (feriado da Independência). No final da limpeza, nos reunimos e pensamos em como poderíamos ajudar mais. Nos comoveu muito jogar berços e colchões para a rua, tudo perdido — conta o responsável pelo grupo, Carlos José Picolotto.

Doações com ajuda da comunidade

De volta a Sananduva, o grupo iniciou uma mobilização para seguir na recuperação da escola. O objetivo, agora, era conseguir berços e colchões para que as crianças pudessem voltar ao local antes do previsto pela destruição.

A mobilização surtiu efeito: em poucos dias, foram arrecadados 50 colchões e 25 berços. Os voluntários conseguiram ainda tintas para pintura da escola e um valor em dinheiro, com origem de uma vaquinha, para comprar uma geladeira.

O valor arrecadado também ajudou na compra de mobiliário, brinquedos, materiais escolares, utensílios para cozinha e lavanderia. No feriado Farroupilha, em 20 de setembro, quatro voluntários voltaram a Roca Sales, desta vez para pintar a escola e dar suporte na reestruturação da parte elétrica do local.

— A comunidade pegou junto. Foi uma ajuda dos moradores de Sananduva, da comunidade. Conseguimos entregar uma cozinha nova, com todos equipamentos necessários — destaca Picolotto.

Após a limpeza da escola, pintura e suporte na rede elétrica, o último passo era realização da entrega dos móveis, equipamentos, eletrodomésticos e demais doações para a escola. No sábado (23), o grupo voltou a Roca Sales para selar o momento de solidariedade e alegria.

Os pais e as crianças da escola foram convidados para participar do momento especial. De acordo com Carlos Picolotto, entregar uma escola praticamente nova foi um misto de emoções:

— Nós chegamos lá, no primeiro dia, e não sabíamos como encarar aquilo. Vimos cada berço, cada colchonete, cada história que tinha ali, tudo sendo jogado fora. Essa sensação ruim se transformou em algo bom, desta solidariedade e de ajudar o próximo. Ver tudo novo, a alegria dos pais retornar a escola com seus filhos, é algo impagável, algo que eu não tinha ideia de ver — declara.

Gratidão e esperança

Com a tragédia no Vale do Taquari, a diretora Rosemari conta que já estava desanimada com o mundo. A luz que ela pediu ao ver a escola inundada foi a esperança que ela precisava naquele momento.

— A água subiu muito, tinha 30, 40 centímetros de lama. A gente ficou com dó, por cada peça, cada material que jogamos fora. Lutamos muito para conseguir isso e desanimou muito a gente (da escola) — afirma.

A sensação ao ver desconhecidos ajudando de forma voluntária e mantendo contatos diários é de gratidão. Ela classifica todos como “anjos”, por contribuírem e reerguerem a escola no momento mais difícil desde 2006, quando foi fundada.

— Eu estava desanimada com o mundo, mas a gente viu o quanto existem pessoas boas. Os pais estão muito emocionados. Vimos que podemos continuar a nossa luta graças a esses anjos e ver que o mundo não está perdido, que ainda temos esperança. As nossas esperanças foram renovadas — completa.

 

Por Matheus Moraes – GZH Passo Fundo